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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Apologética - Ciência e Fé I

Olá a todos! Nos últimos posts temos estudado sobre Apologética, ou seja, a defesa da fé. Após uma introdução sobre o tema, passamos a nos debruçar sobre diversos aspectos e outras temáticas que surgem quando estamos pensando em defender a razão da nossa esperança (I Pe. 3:15). O tema de hoje não é nem um pouco mais light do que os outros que vimos: é possível haver conciliação entre fé e ciência?


Nós vivemos na Terra, um planeta cheio de beleza, ordem, de uma natureza exuberante e que por muitas vezes nos intriga. É interessante notar que os primeiros cientistas eram cristãos! Estamos pensando aqui em Copérnico, Newton, Kepler, Kelvin e, em certa instância, até Einstein. O ponto principal que vamos tentar defender aqui é: o Cristianismo foi condição essencial para o surgimento da ciência.

(Obs.: Este é um ponto passivo para os historiadores da ciência, que admitem que o Cristianismo mais ajudou do que atrapalhou a ciência, mas vamos tentar desenvolvê-lo melhor.)

Vamos lá. O que é ciência? Ora, quando nos referimos a este termo, estamos pensando num esforço da mente humana que depende dos sentidos para avaliar a realidade. A ciência tal como a conhecemos tem por base duas ideias principais: o método científico (observação, identificação do problema, hipótese, experimentação, formação de teses ou leis) e o naturalismo/materialismo (tudo o que existe pode ser percebido e compreendido pelos nossos sentidos).

E quanto à fé? O texto de Hebreus 1:11 nos diz: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.”. Já o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (importante dicionário online de Portugal) define fé como: “Adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro.”.

Note que as duas definições (uma sacra e outra secular) não são contradizentes entre si, pelo contrário: apontam para uma crença em algo que não se pode ver ou tocar, mas que se entende como verdadeiro. Veja que até então não estamos falando de fé em Deus ou Jesus, mas apenas de fé de uma maneira geral, como aquela tirada da definição de um dicionário mesmo.

A pergunta que se propõe então, é: fé é privada de razão? Vemos que a definição do dicionário traz a ideia de adesão àquilo que se considera verdadeiro, logo, há algum pensamento racional por trás disso. Podemos desenvolver isto um pouco melhor da seguinte forma:

Calvino fazia menção ao sensus divinatis, que é o desejo intrínseco a todo ser humano de chegar-se a Deus, de preencher o vazio da busca pelo espiritual dentro de si, mas que este desejo foi deturpado pelo pecado. A ideia é de que a fé per si é algo próprio da natureza humana, que tem aceitação racional sem argumentos cogentes. Veja-se por exemplo: alguém é acusado de ter cometido um crime, mas não consegue reunir evidências para mostrar que não é culpado.

Então, como vimos, fé não é somente algo religioso, há outros tipos. Os fatos não são entendidos isoladamente, mas dependem de um sistema de crenças. A Terra é redonda. Ok. Mas o que isto implica? Em que contexto isso é relevante? O sistema de crenças que leva à compreensão dos fatos e sua interpretação é um tipo de fé, pois também baseia-se em pressupostos (como já vimos antes).

Vamos ver um exemplo prático disso? Analisemos a história do Bóson de Higgs! Isso mesmo, podemos demonstrar através de uma descoberta científica que a fé perpassa todos os níveis do entendimento humano. Olha só que bacana:


Em 1964, o físico Peter Higgs, da University of Edinburgh, na Escócia, propôs (a partir das ideias de Philip Anderson) a existência de uma partícula que atuaria unindo todas as partículas conhecidas da matéria (férmions) e os transportadores das forças que agem sobre elas (bósons), num oceano quântico onipresente chamado campo de spin-0.

Porém estamos falando da década de 1960 e os experimentos feitos na época não foram suficientes para provar a existência de tal partícula e, por isso, a teoria não teve credibilidade na época – inclusive muitos acreditavam que estas pesquisas eram um beco sem saída e encorajavam os cientistas a desistirem desta área de estudo.

Porém a ideia era muito boa, parecia se encaixar de uma forma tão boa que alguns cientistas – mesmo a teoria de Higgs não tendo sido provada ainda – resolveram continuar baseando-se nesta ideia para suas formulações teóricas. Durante a década de 1970, algumas ideias desenvolveram-se e apontavam que as ideias de Higgs estavam certas; na década de 1980, o Bóson de Higgs permanecia uma grande incógnita da Física, pois não podia ser provado.

Não obstante, a ideia não morreu aí. Ela era muito boa. Encaixava-se bem demais. Ela só podia ser verdadeira. Mas não era possível prová-la. Não obstante, muitas ideias continuaram a se desenvolver baseadas apenas na crença da veracidade das ideias de Higgs.

Na década de 1990, experimentos ainda buscavam ansiosamente esta partícula; e mesmo ela não tendo sido provada, em 2010, a revista científica Physical Review Letters's reconheceu o trabalho (ainda não provado cientificamente) de Higgs e concedeu a ele e outros autores o J. J. Sakurai Prize for Theoretical Particle Physics.

Meus caros, foi só em 2012! E só em 2013 que confirmaram mesmo! E até hoje, 2016, os cientistas estão bem confiantes (que termo “preciso”, né?) que a partícula que eles descobriram no CERN é de fato o Bóson de Higgs. Mas, de qualquer forma o cara ganhou o Nobel em Física de 2013 pela sua importante descoberta para a Física contemporânea.

Vejam bem a história: 1964-2012. Gente, são mais de 40 anos de diferença! O que leva uma comunidade de cientistas, baseados pela lógica e pelo seu pensamento racional, ficar quase meio século baseando suas ideias em algo que eles apenas acreditam ser real, sem que o mesmo esteja provado? Minha gente, a resposta é muito clara: .

E isto não é ruim! Mesmo não sendo provado por argumentos cogentes, isto não tira a veracidade de um fato e nem tampouco a capacidade de acreditar nele e basear a sua vida, sua pesquisa acadêmica, suas ideias naquilo. A fé não é condição para a falta de racionalidade.

Vamos ver de novo o texto de Hebreus 11:1, e olha como tem tudo a ver com o Bóson de Higgs: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.”. A fé, meus caros, não se trata só de religião. Fé e ciência não são contraditórios, não há uma guerra entre eles, muito pelo contrário, estes termos são complementares.


No próximo post vamos continuar a fortalecer a ideia da relação essencial que há entre o Cristianismo e a Ciência, demonstrando que foi necessário que cientistas cristãos estivessem dispostos a estudar a revelação de Deus na natureza para que a ciência chegasse no patamar que chegou hoje.

Até lá, seja Deus vosso guia e vossa luz

S.D.G.

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